Hoje em dia, é senso comum que estar perto de áreas verdes nos faz viver melhor. Cada dia nos deparamos com mais reportagens divulgando esse fato. Nesta semana mesmo li uma matéria com o título: “toda criança precisa de contato com a natureza para crescer e se desenvolver de maneira saudável”.
Isso remeteu a minha própria infância. Das poucas lembranças que guardo, acredito que a mais feliz seja lembrar dos finais de tarde de verão na Serra Gaúcha, onde meus pais e eu subíamos as escadinhas dos fundos da nossa casa e comíamos ali mesmo os figos do pomar. A doçura da fruta me traz nostalgia até hoje.
O ritual de esperar a estação das frutíferas é uma das coisas que nos traz ao mundo real. Isso é vida acontecendo. Aliás, posso dizer que na vida é a natureza que me guia: sentir o sopro do vento, olhar as estrelas brilhando no céu e a lua iluminando a escuridão, tomar água pura na cachoeira, sentir a água do mar massageando meus pés, captar a energia suprema do pôr e do nascer do sol (essa nem se fala). É olhar, olhar e viajar naquele momento de paz. Sentindo a natureza, no vazio do observar, aí encontro minha verdadeira essência.
Em outra escala, podemos trazer um pouco dessas sensações para dentro dos nossos muros. O barulho da água rodando na fonte, a trepadeira se desenvolvendo e colorindo a cerca mês a mês, o cheiro da arruda que dança com o vento, a borboleta pousando nas lantanas do canteiro, o desabrochar das flores da estação. É descobrindo a particularidade de cada planta e aprendendo a cultivá-la que fortalecemos o sentimento de vida. Testar a receita de adubo da vó, sentir a umidade da terra, trocar mudinhas com a comadre e ver a planta crescer.
Observar o jardim é voltar a ser criança: quando se percebe o mundo com liberdade, sem as “podas” da vida, com o olhar e sentimento mais verdadeiro possível.
No final desta pequena leitura, vá para o lugar mais verde que estiver disponível. Seja a praça do bairro, os canteiros da calçada, seja num jardim formal ou num jardim naturalista, seja até mesmo a pequena planta da mesa de jantar: feche os olhos, relaxe e esvazie a mente, respire fundo e sinta o ar puro entrando nos seus pulmões.
Jardim é terapia! Essa é a sua verdadeira função, trazer paz e bem-estar para quem o sente. Percebo isso com brilho do olhar e o sorriso estampado no rosto de cada pessoa que descreve o seu jardim.
Onde tem jardim tem vida, e onde tem vida tem verdade.
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